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Neste artigo, exploramos a intersecção entre a experiência de jogar e a poética do tempo em Fernando Pessoa. Através da análise dos sentimentos e da estética das palavras, discutimos como o jogo pode servir como um espelho para a dualidade do ser e para a percepção do tempo, aspectos centrais na obra do poeta.

O ato de jogar muitas vezes é comparável ao processo de criação poética; um dialogar profundo entre o jogador e a obra que se revela conforme mergulhamos em sua dinâmica

Ao iniciar uma partida, sou transportado a um universo onde cada movimento é uma escolha, onde o tempo se dilata e a realidade se confunde com a fantasia

Nessa relação quase íntima, me recordo das palavras de Fernando Pessoa, que em seus versos revelam a angustiante fluidez do tempo e a precariedade da existência.game43 As múltiplas facetas do eu pessoano encontram eco nas diferentes abordagens que um jogador pode adotar em um jogo

O que é o 'eu' senão uma construção fragmentada, um espelho de incertezas e reflexões, assim como cada jogador pode assumir um personagem distinto a cada nova rodada? Os dilemas, as vitórias e as derrotas nos jogos evocam os estados de espírito presentes na obra de Pessoa, onde cada poema pode ser visto como uma partida – cheia de tensão, expectativa e, por fim, de resignação à efemeridade. Em um mundo onde a imediatez rege nossas ações, o jogo propõe uma pausa, uma reflexão sobre o que define o presente

Jogar torna-se, então, uma meditação sobre o tempo: o tempo que passa, o tempo que se estica, e o tempo que, como o próprio lamento de Pessoa, nunca retorna

Os momentos de inatividade entre as jogadas nos convidam a contemplar o que ficou para trás — experiências, emoções, conquistas e frustrações — de maneira semelhante ao olhar melancólico do poeta para a sua própria trajetória. Durante as minhas ideias jogadas, percebo como as emoções se entrelaçam com cada jogada

A alegria de uma vitória, a tristeza de uma perda: tudo isso reflete, de algum modo, a busca por significado que permeia a poesia de Pessoa

A reverberação de sentimentos torna-se, assim, a ponte entre o lúdico e o lírico

O jogador se torna um poeta, e cada jogada, um verso escrito em uma folha em branco, onde a rigidez das regras se dissolve na criatividade da estratégia e da sorte. Assim, ao jogar, não apenas participamos de uma história, mas também escrevemos nossa própria letra

O jogo pergunta e a poesia responde: o que fazemos com o tempo que nos é dado? A resiliência diante da impermanência, a busca pelo sentido em cada situação de jogo, são reflexões que ecoam as indagações propostas por Fernando Pessoa, levando o jogador a um estado de introspecção e autodescoberta

Desta forma, a experiência lúdica não se limita ao entretenimento, mas se torna uma viagem poética – repleta de desafios, mas também de beleza e significado.